Obras de arte

Monumento às Bandeiras, de Victor Brecheret

No início da década de 1920, os círculos políticos de São Paulo começavam a programar as comemorações do Centenário da Independência que aconteceriam em 1922. O Monumento às Bandeiras foi pensado por Victor Brecheret (1894-1955) a partir da sugestão de Menotti del Picchia de criar um monumento que rendesse homenagem aos Bandeirantes, identificados como os antepassados dos paulistas.

O projeto original de 1920 acabou não sendo realizado e foi retomado só em 1936, quando o governador Armando de Sales Oliveira chama Brecheret para retomá-lo, incentivado novamente por Menotti del Picchia e por Cassiano Ricardo. Os dois intelectuais tinham acabado de fundar o Movimento Bandeira, que nasce como uma dissidência do Integralismo, por sua vez espelhado no Fascismo italiano. Na prática, aqueles eram dois movimentos de viés autoritário e nacionalista, disputando o protagonismo político naqueles anos. Daí a busca pelos eventos e personagens que remetessem às origens da história nacional.

Naquela década de 1930, os debates sobre a busca por uma identidade artística nacional, iniciados desde a Semana de Arte Moderna de 1922, ainda estavam presentes no ambiente artístico paulista. O governador Armando Sales e os intelectuais do Bandeira, assim, querem representar os bandeirantes – e, por extensão, os paulistas – como os protagonistas da construção do país. A imagem reforça a mensagem de um povo organizado hierarquicamente, sob um comando forte, que vai em caravana em direção ao oeste para ocupar o território brasileiro.

As figuras criadas do Monumento às Bandeiras se distinguem umas das outras pelos traços físicos, que identificam suas etnias. Naquele momento, difundiam-se as ideias de Gilberto Freyre (em Casa grande e senzala) e Sérgio Buarque de Holanda (em Raízes do Brasil), sobre o mito das “três raças” formadoras do povo brasileiro – o branco/mameluco, o indígena e o negro. Brecheret elabora figuras com traços típicos dessas três etnias e outras miscigenadas, para ilustrar a miscigenação brasileira que gerou a força de um povo. De fato, chama a atenção a potência das figuras, de corpos vigorosos, ombros larguíssimos, mãos, braços e pernas até desproporcionais em relação ao corpo. Cada uma é um pequeno colosso, num conjunto que chega a 11 metros de altura, 8,4m de largura e 43,80 de profundidade.

Desde a retomada do projeto em 1936, a sua realização atravessou o Estado Novo e a Segunda Guerra, ficando parado até os anos 1950, quando sua construção é retomada. O monumento seria inaugurado em 1953, às vésperas dos festejos do IV Centenário de São Paulo, quando foi também construído o Parque do Ibirapuera.

A figura do bandeirante, hoje controversa, recebeu alguns significados diferentes ao longo do tempo, mas esse é um tema para outro dia. O Monumento às Bandeiras continua sendo um importante espaço de representação, ocupação e manifestação dos habitantes de São Paulo, que proporciona reflexão, questionamento e, sendo um dos cartões-postais da cidade – por que não – identidade.


REFERÊNCIAS

BATISTA, Marta Rossetti. Bandeiras de Brecheret. História de um monumento (1920-1953). São Paulo: Departamento do Patrimônio Histórico, 1985.

PECCININI, Daisy. Brecheret: a linguagem das formas. São Paulo: Instituto Victor Brecheret, 2004.

VIRAVA, Thiago Gil de Oliveira; CHIARELLI, Domingos Tadeu. “O monumento às bandeiras como processo: do presente ao passado”. Quiroga, nº 16, julho-dezembro/2019, pp. 36-51.

Imagens: Acervo Unesp

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