Dicas

Três filmes sobre arte para ver no Netflix

É um pouco frustrante procurar filmes sobre arte no Netflix, mas consegui trazer essas três dicas para enriquecer a sua quarentena com um pouco de história da arte do século XX.

1) Grandes Olhos (Big Eyes, 2014)

Este filme conta a história da artista estadunidense Margaret Keane (1927-), autora de um estilo bem particular de desenho, com figuras de olhos enormes e olhar melancólico. Entre os anos 1950 e 1960, as vendas de seus quadros não apenas no mercado de arte, como reproduções das suas obras ganharam enorme popularidade. O único porém é que quem se apresentava como o autor das obras era seu marido, Walter Keane (1915-2000). A farsa veio a ser revelada alguns anos depois e a história contada no filme revela situações clássicas do machismo (o explícito e o estrutural) que oprima as mulheres tanto na vida em sociedade quanto na vida íntima.

O filme tem direção de Tim Burton e Amy Adams e Christoph Waltz nos papéis dos protagonistas, que oferecem uma ótima atuação. Embora não seja um filme excelente, vale a pena conhecer a história.

Vou deixar aqui dois vídeos para você assistir depois (ou antes) de ver o filme:
– Entrevista com Margaret Keane pouco depois da revelação sobre a verdadeira autoria dos quadros: https://www.youtube.com/watch?v=oMK6aBSX2QY
– Entrevista de Walter Keane em 1964, fingindo ser o autor: https://www.youtube.com/watch?v=9WgStC6fvtM

2) Burden (2016)

Documentário sobre o trabalho do polêmico artista Chris Burden (1946-2015). Foi autor de instalações e esculturas, mas foi seu trabalho com performances que fez sua fama: por muito tempo, ele ficou conhecido como o artista que se fez disparar com uma arma (The Shoot, 1971). De personalidade inquieta, beirando a insanidade, suas performances seguiam o mesmo tom, ainda que com uma grande dose de autenticidade, isto é, mais do que um desejo de afetar o espectador, eram uma forma de expressão pouco ortodoxa, mesmo para os padrões da arte. De fato, o que mostra o documentário é que Burden inspirou vários artistas seus contemporâneos.

É importante entender um pouco do que a arte estava se tornando a partir dos anos 1960, desvinculando-se dos suportes e materiais tradicionais (quadro, papel, tinta, argila, pedra, desenho…) e abrindo um caminho gigante de novas possibilidades, formatos e expressões. A performance foi uma das herdeiras do Dadaísmo da primeira metade do século, rompendo padrões e dotando os artistas de liberdade para experimentar.

3) Frida (2002)

Nos anos 1980, houve uma reabilitação, na história da arte, de artistas considerados/as periféricas*, especialmente artistas mulheres e latinoamericanos/as. Frida Kahlo (1907-1954) ganhou a atenção dos historiadores da arte nesse período, mas foi com o filme em 2002 que ficou conhecida para o grande público.

Frida usou a arte para externar suas dores físicas e emocionais, para manifestar sua aversão aos padrões impostos pela sociedade hipócrita e para resgatar a cultura regional do seu povo. Embora tenha produzido muito e tenha ganhado até a atenção do teórico do Surrealismo André Breton (1896-1966), em vida não ganhou notoriedade como Diego Rivera (1886-1957), conhecido e reconhecido como um dos maiores muralistas mexicanos já na sua época.

*conceito de centro, entendido como centro cultural (= Europa e EUA) e periferia cultural (= todo o resto do mundo).

Mesmo que provavelmente a maioria das pessoas já tenha visto Frida, achei que valia a pena colocá-la nesta pequena lista, para vermos ou revermos antes que o Netflix tire o filme do catálogo.

De resto, para conteúdo de arte em streaming eu recomendo o Arte1Play, aplicativo/assinatura do Canal Arte1, que tem excelente custo-benefício.

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