“Eu gosto tanto de arte mas não entendo nada”. “Será que tenho que estudar História da Arte de forma aprofundada para ir ao museu e entender alguma coisa?”. Será?
Para responder a essa pergunta eu vou começar recorrendo primeiro aos estudiosos da pedagogia: Jean Piaget, Maria Montessori, Paulo Freire, são eles que dizem que todo conhecimento se constroi em cima de outro conhecimento prévio. Nenhum conhecimento brota do nada.
Isso significa que você certamente tem algum conhecimento de mundo que pode te ajudar a fazer da experiência com a obra de arte algo mais prazeroso, para que essa experiência vá além do “gosto” e “não gosto”.
Para isso, o primeiro exercício que você vai começar a fazer é observar. Parece simples, não é? Mas pense aqui comigo e me diga, você que já tem algum hábito, mesmo que de vez em quando, de ir a exposições em museus:
Quanto tempo em média você fica observando uma única obra de arte?
Entre a nossa ansiedade ou curiosidade de ver tudo, nosso tempo curto e o ritmo acelerado em que nós vivemos hoje, nós dedicamos muito pouco do nosso tempo e energia a observar a obra.
Faça esse exercício! Ao se deparar com uma obra de arte, passe 1 minuto observando. Ouça com os olhos o que a obra de arte tem a dizer. A obra de arte é a criação de alguém, ela é um pequeno universo e pode ter muitas coisas pra lhe contar.
Você pode identificar:
- o tema do quadro: se é um episódio mitológico ou bíblico (ainda que você não conheça), ou se é um tema atual;
- que personagens o artista escolheu colocar no quadro, quais têm mais destaque, como ele escolheu representá-los.
- as cores: são mais vivas? são mais terrosas? a pintura é iluminada ou escura? Eu me sinto bem ou me causa incômodo?
- as formas: são bem definidas? São borradas? Eu consigo ver as pinceladas ou o artista as escondeu?
- Pelo tema eu posso me perguntar: existe alguma mensagem evidente ali? É um tema político? Tem alguma crítica social? Tem a ver com a minha realidade?
Percorra a obra vendo os detalhes, como se você precisasse descrevê-la para alguém que não está ali.
Quase todas essas perguntas, você pode responder ainda que nunca tenha estudado história da arte, que não tenha visto nenhuma aula ou vídeo falando de uma obra de arte.
É claro que muitas obras têm várias camadas de interpretação, e quanto maior o seu conhecimento de mundo, quanto mais tiver estudado as ciências humanas, a história, e a própria história da arte, mais ferramentas vai ter para fazer uma leitura melhor.
É o mesmo percurso que faz uma pessoa que está aprendendo a ler. Primeiro ela aprende as letras, depois as palavras e finalmente consegue ler um texto. Com a prática da leitura ela vai se capacitar para entender os textos e ser capaz de entender textos cada vez mais difíceis e complexos e de elaborar um pensamento crítico.
Cada etapa dessa aprendizagem tem o seu prazer, então eu convido você a começar a olhar para as obras de arte com a humildade, ou a curiosidade, de quem quer saber o que ela tem a dizer. Você vai descobrir que já sabe muito mais do que pensa e de que esse universo é menos nebuloso do que parece.
Não se sinta intimidado por uma obra que parece difícil de entender. Muitas vezes a gente não entende mesmo. Nem a gente, que estuda arte, sempre entende uma obra. Às vezes a intenção do artista não é que ela seja entendida. Às vezes a intenção é que cada observador tenha a sua interpretação. Às vezes a vontade do artista nem era essa, mas acontece do mesmo jeito.
E, é claro, se se a sua curiosidade não se satisfaz com a fruição, a observação da obra, comece a ler sobre o assunto, a procurar mais informação, a ter mais contato com o universo da História da Arte.